sábado, 13 de outubro de 2012

Plaquetes, Caricatura e susceptibilidades

A primeira plaquete de Coimbra (Queima das Fitas de 1903), que continha 10 caricaturas de quartanistas, mostra oito rostos de expressão fechada, sem  sorriso, com apenas dois a mostrarem a dentuça (o célebre "Pad Zé" e o "Papagaio Açoriano").
 O caso é que uma caricatura é uma síntese gráfica da identidade de um indivíduo. E, se há pessoas cuja característica predominante é o sorriso ou até a gargalhada, outras caracterizam-se pelo seu semblante fechado ou até melancólico.
 Por vezes, uma dentadura é de tal modo sui generis, que se torna elemento essencial para que a caricatura se torne eficaz
 Mas, em Coimbra o caricaturista é frequentemente confrontadocom o esforço de um ou outro estudante que teima em fechar a boca, para que a sua particularidade dentária não fique perpetuada na plaquete...
 Como agir, em situações desta natureza? Uma caricatura só é eficaz, se potenciar essas características individualizadoras. Além de que assiste ao caricaturista a prorrogativa da irreverência...
Por minha parte, não sou fundamentalista. Perante um sorriso "dos tais", daqueles que "estão a pedi-las", trento avaliar com que profundidade é que o/a estudante sofre daquele complexo.
 Se me apercebo de que o "traumatismo" é sério, condescendo em esconder a particularidade fisionómica. Com prejuízo para o resultado final da caricatura, evidentemente, mas a verdade é que...
 ...mas a verdade é que este registo gráfico não é feito para se tornar penoso para o caricaturado (e é ele que paga a caricatura...)
 A Caricatura coimbrã, que seria mais correcto ser denominada Retrato Satírico, tem de ser lisongeira; contudo, o mais divertida possível.
É esse equilíbrio que o caricaturista de Coimbra procura obter: divertir os outros, sem magoar o próprio caricaturado.
 O mesmo se passa quando o/a estudante é uma pessoa cheinha. Também isso deve ser tratado com tacto, por parte do caricaturista.
 Afinal, uma plaquete vai durar uma vida (aliás, vai sobreviver ao caricaturado; ainda há pouco vos falei da primeira plaquete de Coimbra, que tem mais de 100 anos).
 Não é, portanto, legítimo que os filhos, os netos de cada um destes caricaturados se deparem com uma visão negativa do seu (da sua) familiar...

Hoje em dia, esta questão da susceptibilidade coloca-se com muito mais frequência ao caricaturista do que há 20 ou 30 anos. Porquê?

 Porque é agora muito maior a percentage de mulheres quartanistas. E elas cultivam mais a auto-estima e a própria imagem. E é dado adquirido que uma caricatura não se rege, propriamente, pelas regras do esteticista...
 A Caricatura para a imprensa é outra coisa. Aí, o caricaturista está a publicar trabalho de opinião. E, frequentemente, opinião demolidora...
 Muitas das caricaturas que desenhamos para os jornais, são verdadeiras cacetadas nas costas do político X ou no político Y.
 Tanto se nos dá que o político caricaturado goste ou não goste da caricatura que o visa; aliás, mau sinal seria se ele gostasse...
 Costuma, até, dizer-se que é mau para um político ser caricaturado, mas...
 ...mas é bem pior não o ser!
 O político sabe bem que, ao ser caricaturado nos jornais, isso é sinal do seu estatuto. Significa que passou a ter dimensão, deixou de ser um anónimo.
 É um bocado esse espírito que reside nisto das caricaturas das plaquetes de Coimbra: quado for para a vida do trabalho, ele (ela) leva um diploma e uma caricatura!
 O diploma atesta a conclusão da vida académica, ao passo que a caricatura atesta a conclusão da vida social coimbrã.
 Por se tratar de uma especificidade de Coimbra, aliás secular, coisa que não existe em mais nenhuma academia fora de Portugal, isto das caricaturas coimbrãs e das plaquetes deveria merecer uma especial atenção das enntidades académicas e civis.
 Contudo, trata-se de um patrimónico ostracizado, não obstante distintivo da cidade. As instituições têm receio destas coisas do Humor. Um receio... ridículo!...


Uma capa em cima da hora
No ano passado, estava eu la lufa-lufa dos desenhos das caricaturas, quando de repente um curso de Relações Internacionais me pede um desenho para a capa da plaquete! E eu sem tempo! E eles sem uma ideia! E lá me ocorreu este iodeia para este cartoon, apoiado na realidade internacional do momento

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

...e depois os caricaturistas é que são uns brincalhões!

Ensaios para uma legenda

Parafraseando Coimbra: "Eis a Real República!"
Ou então: "Real República dos Cágados".
(Perdoem-me a ignorância da pergunta: Depois do acordo ortográfico, cágados leva acento?)
Outra hipótese de legenda: "O Estado da Nação"