Esta caricatura tem a data de 1954 e foi desenhada pelo próprio, aliás admirador de Van Gogh, como se verifica por um dos elementos acessórios.Naquela altura havia um estudante ou outro que recorriam à autocaricatura, como fez este médico.
Vejamos esta ampliação do que ele escreveu em jeito de assinatura: " Eu visto por mim (e poupei 50 paus.)". Creio que todos saberão que o pau era o mesmo que o escudo, mas em linguagem popular.
Esta nota manuscrita é uma clara informação de quanto custava uma caricatura em 1954: cinquenta escudos.
Era caro? Barato? Vamos a uma pequena investigação (em escudos, se não se importam):
Neste meio século e reportando-nos à amostragem, um café foi das coisas que menos subiram. Só vencido pelo custo de uma caricatura!!!
Tomar um café faz-se hoje por 178 vezes mais, enquanto que uma caricatura para uma plaquette apenas multiplica por 80 o seu custo.
Em termos médios, a amostragem acima permite concluir que o custo de vida subiu para 251 vezes mais, desde 1954 até 2010. Ou seja: se uma caricatura custava 50$00, deveria custar agora 12 550$00. Na nova moeda: mais de 62 euros.
Portanto, as caricaturas em Coimbra estão a ser pagas por um terço do seu real valor. Para não falar nos preços que praticam os caricaturistas iniciados, na tentativa de conseguirem mercado, ambição mais do que legítima.
Mas há mais: hoje em dia, os estudantes querem que fique registada na caricatura a sua vida integral, como se aquele rectângulo de papel fosse um album de Banda Desenhada com 200 páginas. E isso duplica (DUPLICA!) o tempo dispendido, quando comparado com os desenhos que se produziam há umas décadas.
Consequências
Como não há milagres, a qualidade da Caricatura em Coimbra está a baixar. Não por falta de talento dos caricaturistas, sim por falta de tempo para um trabalho mais elaborado. Portanto, o estudante não ganha com a degradação da situação. Os parcos euros que economiza, que afinal não significam mais do que umas quantas (poucas) cervejas, seriam (porque multiplicados) um razoável aumento de rendimento para os artistas, traduzido numa melhoria da qualidade dos desenhos.
Um original de uma caricatura, se tiver uma assinatura com cotação no mercado de arte, é património que o estudante guarda para a vida. Mais valioso, se desenhado com cuidado; e com tintas que resistam à degradação da luz. Com preços de miséria, a tendência é que o resultado seja miserável. Com interesse para alguém? Claro que não! Muito menos para a Academia, que vê degradar-se a qualidade deste seu património centenar, que não existe em mais nenhum país do mundo (embora a expandir-se para outras academias portuguesas, curiosamente com melhor nível de remuneração).
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