quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Caricatura académica
Livro de Curso... da Pré-primária
Não há dúvida de que a Caricatura está na moda. Basta apreciarmos a quantidade de caricaturas que circulam via e-mail (quase sempre deixando o autor no anonimato, coisa grave, reprovável) ou recordarmos o triste desenrolar das contestações de carácter religioso em torno de um conjunto de caricaturas, episódios sucessivos que abriram telejornais e provocaram dezenas de mortosTalvez por ser hoje redimensionada pela sua popularidade, a Caricatura para Plaquettes e Livros de Curso deixou de ser um exclusivo de estudantes universitários em final de carreira. Por exemplo estes caricaturas anexas são uma parte de um conjunto que assinala a conclusão de um curso de... Pré-primária!
Será razoável que as comunidades escolares destes níveis etários tomem como seus os hábitos tradicionalmente assumidos pelos mais velhos, estudantes já adultos? Depende. Fazer a caricatura de um adulto é traçar o se perfil psicológico, implacavelmente, desnudando a sua alma através de um jogo de exageros (para mais ou para menos) que o desmascaram (de forma divertida, embora) salientando os traços fundamentais do seu carácter.

Ora é aqui que bat o ponto; um adulto é passível de ser submetido ao "julgamento" da sua identidade psicissomática. E ainda mais, quando se trata de pessoa intelectualmente qualificada (por via da sua preparação académica).

Mas a criança não deve nunca ser sujeita à maldade de um "julgamento" que a condena por ter uma batata em vez de nariz, ou uns valentes quilos a mais a denunciarem abuso de guloseimas ou simples distúrbios de tiróide. Se ao adulto se exige que saiba conviver assumidamente com as suas próprias características, a uma criança não se pode pedir semelhante coisa.

É por isso que não encaro de ânimo leve a tarefa de fazer caricauras de crianças. Tenho o máximo cuidado em não as traumatizar, contendo-me nos exageros.
E não deixo de notar que uma criança não tem ainda o seu carácter complatamente definido, faltando-lhe, por isso, os traços essenciais que a individualizam de modo determinante. Também essa é uma dificuldade acrescida para a tarefa do caricaturista.

Mas se a pequena comunidade de estudantes (ou dos seus pais...) acha divertido registar o culminar da sua primeira experiência académica mediante um conjunto de caricaturas, pois que o faça. Mas o caricaturista não tem o direito de exagerar a seu belo prazer a fisionomia de uma criança como se ela fosse um adulto.

A caricatura de uma figura social pode, porventura, cair no grotesco. Basta que o caricaturista ache que esse é um caminho útil para desmascarar comportamentos inaceitáveis. Mas esse nunca pode ser o caminho para elaborar a Caricatura de uma criança.
Arriscarei dizer que uma criança não tem uma caricatura. Caricatura é o retrato caricato de alguém; e uma criança nunca tem nada de caricato. Resta, então, a solução de se desenhar um retrato levemente satírico, em que os exageros se encaminhem para a lisonja.

...e a lisonja é exactamente o contrário do que se exige de uma caricatura!... Zé Oliveira

2 comentários:

@JoseAdolfo disse...

Seu artigo é perfeito. Nunca podemos levar um criança a uma percepção propria q ela ainda não descobriu.

Vera Medeiros disse...

Adorei seu artigo, usei alguns desenhos para ilustrar o texto Sou eu Mesmo de Sergio Caparelli para os aluninhos do 3 a. ano. Valeu!